terça-feira, 21 de setembro de 2010

Creche e Lar Minha Avó Flor

Chegando ao Largo da Madragoa, na Ribeira, é possível encontrar crianças e jovens se divertindo com os seus familiares.
No imóvel logo em frente, uma realidade familiar bem diferente. Lá está localizado o orfanato e creche Minha Vó Flor, fundado em 1978 pela aposentada Florenice Gomes Macedo, 74 anos, a Vovó Flor. O orfanato abriga 63 crianças e jovens de oito meses a 19 anos.
O orfanato funcionou 12 doze anos em Água de Meninos, onde Dona Florenice morava, e quatro anos no Bonfim. Segundo ela, a entidade foi para a Ribeira porque o número de crianças abrigadas aumentou. “Essa casa é maior e dá para os meninos ficarem mais a vontade”. Dona Florenice declarou que nunca teve pretensão de inaugurar o orfanato e que tudo aconteceu naturalmente: “As pessoas me pediam para tomar conta de seus filhos porque não tinham condições de criar”.
A coordenadora e voluntária do orfanato, Nanci de Souza, está há quinze 15 anos na entidade e disse que o local vive de doações voluntárias de pessoas que moram no bairro. As pessoas doam alimentos e dinheiro, depositado em conta bancária, para ajudar no aluguel da casa que é de R$1.116,00. Segundo Nanci, as doações não são fixas. “Eles ajudam, mas não todo mês, eles podem vir hoje e no outro mês não aparecer mais”, afirmou ela.
A coordenadora disse que são crianças vindas de várias localidades de Salvador, como Camaçari, Subúrbio e San Martins. Nanci afirmou que o abandono e a falta de condições financeiras dos pais são os casos mais freqüentes. As crianças recebem aulas de espanhol e capoeira, dadas por professores voluntários e saem para passear e brincar no largo todos os fins de semana com os “padrinhos”, voluntários da creche que se responsabilizam por uma ou mais crianças durante um determinado tempo.

Segundo a coordenadora, as crianças são encaminhadas ao orfanato pelo Conselho Tutelar e quando chegam à instituição recebem orientação psicológica devido aos problemas sociais que passaram.
Além disso, Nanci afirmou que muitas crianças chegam com sérios problemas de saúde. “Já vi criança chegar aqui com os olhos amarelos de hepatite. E outros com muito verme, nesse caso encaminhamos logo a clínicas que contribuem com a gente”.

O Ministério Público demonstra interesse em fechar a Creche Escola Minha Avó Flor desde 2007 por não atender às exigências para funcionamento. A creche abriga hoje cerca de 100 crianças, encaminhadas pelo Conselho Tutelar ou deixadas pelos próprios pais. O MP alega que a casa está fora dos padrões já que a casa não tem quartos, banheiros e área de lazer adequados.

Edna, mãe de Carlos Henrique, diz que se sente muito segura em deixar seu filho na creche. “Quando venho buscá-lo, ele sempre tem coisas boas para contar. Fala do quanto se divertiu e aprendeu com Vó Flor. Sinto muito pelo sufoco que ela está passando agora.”

Além das crianças que entram e saem da creche todos os dias, há também aquelas que os pais levam para passar o dia e nunca mais voltaram para buscar, é o caso de Lucas.
“Minha mãe disse que eu ia gostar daqui, que iam cuidar de mim e que era para eu esperar ela me buscar. Mas ela não veio e Vó disse que eu posso ficar aqui esperando. Não sei que dia ela chega.”

São para essas crianças que Vó Flor se motiva todos os dias. “Tenho fé, minha filha, Deus não há de deixar isso acontecer. E para onde vão meus meninos? Quero que eles fiquem comigo. Eu cuido deles.”

Por Fernanda Sodré Cunha

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