
Já no Brasil em 2003, o Ministério da Justiça, consentiu que os transgênicos fossem comercializados legalmente. Contanto que os produtos transgênicos venham devidamente sinalizados em seu rótulo, para que o consumidor tenha liberdade de escolher consumi-los ou não. Ao mesmo tempo em que a medida arrancou aplausos de um grupo, provocou também a ira de outro. Tal como nos anos 50, quando a "revolução verde" implantou os agrotóxicos no campo, as empresas que fabricam os venenos químicos estão propondo uma outra forma de produzir. O mercado dos OGMs promete maior produtividade e, principalmente, resistência ao uso de agrotóxicos.
As críticas aos OGMs que vão desde o desequilíbrio ecológico, passam pelos perigos à saúde humana e desembocam na questão do monopólio de empresas transnacionais. O biólogo e ambientalista Nelson Medeiros adverte que a transferência de material genético humano para microorganismos inimigos potenciais da saúde do homem, pode vir a gerar microorganismos que o sistema imunológico humano tenha dificuldade de identificar e, por conseqüência, dificuldade para combater. Medeiros lembra ainda que o patenteamento dessas sementes por empresas transnacionais fere princípios éticos, além do perigo que representa meia dúzia de corporações internacionais controlarem os dois únicos setores sobre os quais o Terceiro Mundo ainda mantém um certo domínio: a agricultura e a pecuária. "É a redução definitiva da economia mundial", alerta ele. Medeiros garante ser incalculável o risco ambiental. Ele argumenta que a planta transgênica não passou pelos milhares de anos do processo de seleção natural. "Isto quer dizer que ela vai ocupar o espaço de alguma espécie, vai comer a sua comida, habitar a sua moradia, e o impacto na natureza será a conseqüência direta", informa. O ambientalista salienta que a produção de alimentos, hoje, no mundo, é de 120% da necessidade do planeta. Para ele, o problema não está na falta de produção de alimentos, mas sim na má distribuição deles.
Como Medeiros, o engenheiro agrônomo e ecologista José Lutzenberger também ataca a questão do monopólio. "Eles estão patenteando o que nunca se patenteou: os seres vivos, partes de seres vivos, processos vitais, tem até uma corrida para patentear os genes de todo o genoma humano", critica Lutzenberger. Para ele, as patentes se justificam, por tempo limitado, para invenções e não para descobertas dos mistérios da natureza. Os genes existem há mais de três bilhões de anos, os processos de transferência também. "Ninguém tem o direito de atribuir a posse da vida, de partes dela ou de processos vitais", acrescenta. O agrônomo diz que, em nome de um aumento fictício da produtividade, as transnacionais pretendem impor pacotes, como a soja Roundup Ready, uma variedade resistente ao herbicida da própria empresa fabricante. "Eles querem obrigar o agricultor a comprar uma nova semente a cada replantio e assim eliminar a possibilidade dele ter uma semente própria", e completa “A rotulagem é fundamental para que seja feito um acompanhamento do que está acontecendo. Com relação ao ambiente, depois que a gente colocar o gene na natureza, não é possível voltar atrás. Mas, se cometermos algum equívoco com relação à segurança alimentar, podemos recuar. Por isso é que, no caso dos medicamentos, é mais fácil. Quando não dá certo, podem ser retirados do mercado".
A maior cadeia britânica de cosméticos, a Body Shop, chegou a anunciar a retirada de suas estantes qualquer produto que contenha OGM, em particular aqueles à base de óleos de soja e milho. O cientista Arpad Pusztai, que trabalhou no Instituto de Pesquisa Rowett, na Escócia, anunciou no final do ano passado que batatas transgênicas alteraram o sistema imunológico e o cérebro de ratos. Autoridades britânicas e a direção do instituto, porém, consideram os estudos de Arpad ainda incompletos. Os defensores da manutenção do Brasil, como território livre dos OGMs citam experiências controversas realizadas no mundo. No Japão, a empresa Showa Denko criou bactérias transgênicas para produzir vitaminas e aminoácidos (L-triptofano). O resultado foi a morte de 35 pessoas e intoxicação em outras cinco mil. A empresa Pioneer criou uma variedade de soja transgênica com genes da castanha-do-pará, mas não pôde explorar a patente porque o produto causava alergia. Nos Estados Unidos, cientistas criaram um salmão que cresce duas vezes mais rápido do que os outros.
É exatamente contra este tipo de vinculação que os ecologistas sustentam suas críticas. A empresa consegue casar a venda de sua semente com a do veneno que ela mesma fabrica, deixando o agricultor na situação de cliente cativo. Em maio passado, por decisão unânime, os 27 secretários estaduais da Agricultura do país aprovaram uma moção que reivindica a proibição do plantio comercial no Brasil de OGMs. A decisão inédita, votada e oficializada durante o Fórum Nacional, realizado em Pernambuco, foi entregue ao ministro da Agricultura. Além das justificativas já conhecidas - como falta de pesquisas que comprovem as conseqüências maléficas ou não do consumo desses alimentos, a possibilidade de formação de monopólio e a decisão do consumidor europeu de não comprar produtos modificados -, os secretários alegaram ainda implicações extras no orçamento dos estados. Citaram como gastos futuros a certificação dos produtos e a fiscalização nas divisas entre as lavouras transgênicas e as convencionais.
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